Tudo Sobre a Bioquímica Felina – Guia Completo do Perfil Bioquímico em Gatos
- VetSağlıkUzmanı

- 18 nov
- 25 Min. de lectura
O que é um exame de bioquímica felina?
O exame de bioquímica felina é uma análise completa do soro sanguíneo que avalia enzimas, minerais, proteínas, metabólitos, eletrólitos e marcadores essenciais do funcionamento interno do organismo do gato. Este exame fornece informações detalhadas sobre a saúde do fígado, rins, pâncreas, músculos, sistema endócrino, equilíbrio ácido–base e metabolismo energético.
Durante o procedimento, uma amostra de sangue é coletada, processada e analisada em equipamentos automatizados capazes de medir vários parâmetros ao mesmo tempo. Como os gatos tendem a esconder sinais de doença, a bioquímica felina é um dos métodos mais eficazes para identificar alterações em estágios iniciais, antes mesmo de surgirem sintomas visíveis.
Entre os parâmetros avaliados estão ALT, AST, ALP, GGT, bilirrubina, BUN, creatinina, glicose, colesterol, triglicerídeos, cálcio, fósforo, magnésio, proteína total, albumina e globulina. Cada um deles revela aspectos cruciais do estado clínico do gato.
Em resumo, o exame de bioquímica felina é fundamental para detecção precoce de doenças, avaliação pré-anestésica, monitoramento de tratamentos e diagnóstico preciso de alterações nos principais órgãos internos.

Por que o exame de bioquímica é realizado em gatos?
O exame de bioquímica é realizado em gatos para avaliar o funcionamento dos órgãos internos, identificar doenças ocultas, monitorar condições crônicas e orientar decisões terapêuticas. Por serem animais que disfarçam muito bem sinais de dor e doença, a bioquímica felina permite descobrir problemas que dificilmente seriam percebidos pelos tutores.
Principais motivos para realizar o exame
1. Detecção precoce de doenças hepáticas
Enzimas como ALT, AST, ALP, GGT e marcadores como TBA ajudam a identificar inflamação hepática, lesão celular, obstrução biliar, lipidiose hepática e hepatopatias associadas a toxinas.
2. Avaliação da função renal
Parâmetros como BUN, creatinina, fósforo e a relação BUN/CRE indicam doenças renais crônicas, lesões renais agudas, desidratação e obstruções urinárias.
3. Análise da função pancreática e metabólica
Embora amilase e lipase não confirmem pancreatite por si só, ajudam a identificar inflamação pancreática, diabetes mellitus e desequilíbrios metabólicos.
4. Avaliação de eletrólitos e equilíbrio ácido–base
Valores como cálcio, fósforo, magnésio, tCO₂, potássio e cloro revelam distúrbios graves que podem afetar o coração, músculos e sistema nervoso.
5. Diagnóstico de doenças metabólicas e endócrinas
Diabetes, hipertireoidismo, dislipidemias e desequilíbrios hormonais podem alterar glicose, triglicerídeos e colesterol.
6. Identificação de intoxicações e inflamação sistêmica
Certos medicamentos e toxinas elevam enzimas hepáticas e outros marcadores bioquímicos.
7. Avaliação pré-anestésica
Antes de uma cirurgia, é essencial saber se fígado e rins podem metabolizar anestésicos com segurança. A bioquímica guia o protocolo anestésico.
8. Monitoramento de doenças crônicas
Gatos com insuficiência renal, lipidiose hepática, pancreatite ou diabetes precisam de acompanhamento bioquímico regular.
Em síntese, a bioquímica felina é uma ferramenta ampla, detalhada e indispensável para o manejo clínico de gatos.

Custo da bioquímica felina (EUA, Reino Unido, UE Comparação)
O custo de uma bioquímica felina varia amplamente conforme o país, o tipo de painel (básico, padrão ou completo), a tecnologia utilizada, a necessidade de exames adicionais e se o atendimento é de rotina ou emergência. Apesar das diferenças regionais, o exame continua sendo uma das ferramentas mais acessíveis e valiosas para diagnosticar doenças internas em estágios iniciais.
A seguir, uma comparação detalhada entre diferentes regiões:
Estados Unidos (EUA)
Os Estados Unidos possuem alguns dos custos veterinários mais altos do mundo.
Painel químico padrão: 50 – 120 USD
Painel completo + hemograma: 120 – 250 USD
Painel de emergência: 180 – 350 USD
Varia conforme:
Tipo de clínica
Uso de laboratório interno ou externo
Complexidade do caso
Estado (Califórnia e Nova York são os mais caros)
Reino Unido (UK)
Os custos são elevados devido ao padrão médico e à forte presença de clínicas corporativas.
Bioquímica básica: 50 – 90 £
Painel completo + hemograma: 90 – 150 £
Seguros veterinários são comuns e ajudam a gerenciar custos de tratamentos crônicos.
União Europeia (UE)
Os preços variam conforme o país:
Alemanha: 40 – 90 €
Holanda: 45 – 110 €
França: 50 – 120 €
Espanha / Itália: 35 – 90 €
Hospitais universitários podem oferecer valores reduzidos.
Fatores que influenciam o custo
Número de parâmetros analisadosPainéis completos incluem enzimas hepáticas, marcadores renais, eletrólitos, lipídios e minerais.
Tecnologia utilizadaEquipamentos de última geração aumentam a precisão — e o preço.
Exames complementares
Hemograma
Eletrólitos
SDMA
Ultrassom
Raio-X
Necessidade de sedaçãoAlguns gatos precisam de sedação leve para coleta segura de sangue.
Caráter emergencial do exameEmergências são sempre mais caras.
Avaliação geral
Apesar dos custos variáveis entre países, a bioquímica felina é um exame fundamental para o diagnóstico precoce de doenças renais, hepáticas, metabólicas e endócrinas. Seu custo-benefício é muito superior ao de exames mais complexos e invasivos.

Proteína Total (TP)
A Proteína Total (TP) representa a soma de duas frações importantes: albumina e globulinas. Essas proteínas desempenham papéis essenciais no organismo felino, incluindo manutenção da pressão oncótica, transporte de hormônios e nutrientes, suporte ao sistema imunológico, participação na coagulação e equilíbrio de fluidos.
Por isso, a TP é um dos parâmetros iniciais mais importantes avaliados na bioquímica felina, oferecendo uma visão ampla sobre o estado geral de hidratação, função hepática, função renal e atividade imunológica.
O que significa uma TP alta? (Hiperproteinemia)
Uma TP elevada pode indicar:
DesidrataçãoCom menos água no sangue, as proteínas ficam concentradas. É a causa mais comum.
Inflamação crônicaInfecções persistentes ou doenças imunomediadas elevam principalmente as globulinas.
Estimulação imunológicaViral (FIP, FeLV, FIV), bacteriana ou imunomediada.
NeoplasiasMieloma múltiplo ou linfoma podem elevar drasticamente as globulinas.
O que significa uma TP baixa? (Hipoproteinemia)
Pode indicar:
Insuficiência hepáticaO fígado reduz a produção de proteínas.
Enteropatia perdedora de proteínas (PLE)Inflamação intestinal causa perda proteica.
Nefropatia perdedora de proteínas (PLN)Proteína perdida na urina por lesão renal.
Hemorragia significativa
Desnutrição severa
A TP deve sempre ser avaliada junto com albumina, globulina e relação A/G.
Albumina (ALB)
A albumina é a proteína mais abundante do soro felino e é produzida exclusivamente pelo fígado. Ela desempenha funções vitais no transporte de hormônios, ácidos graxos e medicamentos, além de manter a pressão oncótica — fundamental para impedir o vazamento de fluido para os tecidos.
Por isso, alterações na albumina costumam ter impacto clínico significativo.
O que significa uma albumina alta? (Hiperalbuminemia)
Raro em gatos.A causa mais comum é:
Desidratação severaO sangue fica mais concentrado e a albumina parece aumentada.
O que significa uma albumina baixa? (Hipoalbuminemia)
Clinicamente muito importante, podendo indicar:
Insuficiência hepáticaO fígado perde a capacidade de produzir albumina.
PLE – Enteropatia perdedora de proteínasInflamação intestinal ou má absorção.
PLN – Nefropatia perdedora de proteínasAlbumina perdida pela urina.
Inflamação crônicaAs globulinas aumentam enquanto a albumina diminui.
Desnutrição / caquexia
Hemorragias significativas
Consequências clínicas da albumina baixa
Gatos com albumina baixa podem apresentar:
Ascite (líquido no abdômen)
Edema periférico
Derrames cavitários
Cicatrização lenta
Redução do transporte de cálcio e medicamentos
Por isso, a albumina é um dos parâmetros mais importantes da bioquímica felina.
Globulina (GLO)
As globulinas são um grupo de proteínas essenciais que incluem imunoglobulinas (anticorpos), proteínas transportadoras e componentes fundamentais da resposta inflamatória. Por estarem diretamente ligadas ao funcionamento do sistema imunológico, seus níveis na bioquímica felina revelam com precisão se o organismo do gato está enfrentando infecção, inflamação, doença imunomediada ou estimulação antigênica crônica.
O que significa uma globulina alta? (Hiperglobulinemia)
Uma globulina elevada é um achado clínico relevante e pode indicar:
Inflamação crônicaDoenças prolongadas aumentam a produção de anticorpos.
Infecções viraisFIP, FeLV e FIV são causas frequentes.
Infecções bacterianas persistentesEspecialmente quando sistêmicas.
Doenças imunomediadasO sistema imune produz anticorpos excessivamente.
NeoplasiasMieloma múltiplo e linfoma podem elevar globalmente as globulinas.
DesidrataçãoPode causar um aumento falso por concentração sanguínea.
Quando a globulina está alta, é essencial observar a relação A/G, pois valores baixos dessa relação podem sugerir doenças graves como FIP (não diagnóstica por si só, mas altamente sugestiva).
O que significa uma globulina baixa? (Hipoglobulinemia)
Menos comum, podendo indicar:
Imunodeficiências
Perda proteica intestinal (PLE)
Perda proteica renal (PLN)
Hemorragia severa
Insuficiência hepática avançada
Importância clínica
A globulina, em conjunto com a albumina, fornece uma das melhores visões sobre a atividade imunológica e inflamatória no gato.
Relação A/G
A relação Albumina/Globulina (A/G) compara diretamente a quantidade de albumina com a de globulinas no sangue. É uma das ferramentas interpretativas mais poderosas na bioquímica felina, pois revela rapidamente se há inflamação, doença hepática, doença renal ou um processo imunológico relevante.
O intervalo normal costuma ficar entre 0,6 e 1,2 em gatos.
Relação A/G baixa (o achado mais comum)
Geralmente indica:
Globulinas altas + albumina baixa ou normal
Inflamação crônica
Infecções persistentes
Doenças imunomediadas
Sospeita de FIP
Insuficiência hepática
PLE ou PLN
Valores A/G < 0,5 aumentam muito a suspeita de FIP, embora não sejam diagnósticos.
Relação A/G alta
Menos frequente, associada a:
Globulinas baixas
Desidratação severa
Imunossupressão
Importância clínica
A relação A/G ajuda a determinar:
Se a alteração proteica tem origem inflamatória
Se o fígado está deixando de produzir proteínas
Se há perda proteica pelos rins ou intestinos
Se há hiperatividade imunológica
É um dos índices mais valiosos na interpretação do painel bioquímico.
Bilirrubina Total (TBIL)
A Bilirrubina Total (TBIL) é a soma da bilirrubina conjugada (direta) e não conjugada (indireta) presente no sangue do gato. A bilirrubina é um pigmento formado durante a degradação normal dos glóbulos vermelhos, sendo posteriormente processada pelo fígado e eliminada pela bile.
Por isso, a TBIL é um marcador essencial para avaliar função hepática, fluxo biliar e processos hemolíticos. Em muitos casos, a bilirrubina aumenta antes mesmo de a icterícia ser visível, tornando-a um indicador precoce de doenças hepatobiliares.
O que significa uma TBIL alta?
A bilirrubina elevada pode ter origem em três categorias:
1. Causas pré-hepáticas (hemólise)
Quando os glóbulos vermelhos são destruídos mais rapidamente do que o fígado consegue processar:
Anemia hemolítica imunomediada
Parasitas sanguíneos
Toxinas
Reações transfusionais
Hemólise por amostra mal manipulada
2. Causas hepáticas
O fígado não consegue metabolizar a bilirrubina adequadamente.Inclui:
Lipidose hepática
Hepatites tóxicas
Hepatite infecciosa (incluindo FIP)
Neoplasias hepáticas
Inflamação grave do fígado
3. Causas pós-hepáticas (obstrução biliar)
A bile não consegue fluir para o intestino:
Cálculos biliares
Pancreatite pressionando os ductos
Tumores
Colangite ou colangio-hepatite
O que significa TBIL baixa?
Não tem significado clínico; é considerado normal.
Interpretação clínica
TBIL deve sempre ser interpretada com:
ALT, AST, ALP e GGT
TBA (ácidos biliares)
Ultrassom abdominal
Hemograma (para investigar hemólise)
AST (Aspartato Aminotransferase)
A AST é uma enzima presente no fígado, nos músculos esqueléticos, no coração e nos glóbulos vermelhos. Isso significa que sua elevação pode ter múltiplas origens, ao contrário da ALT, que é mais específica para o fígado. Por esse motivo, a interpretação da AST deve ser feita em conjunto com ALT, CK e outros parâmetros relevantes.
O que significa uma AST alta?
1. Lesão hepática
A AST aumenta quando os hepatócitos sofrem dano:
Lipidose hepática
Hepatite tóxica
FIP com acometimento hepático
Hepatites bacterianas
Tumores hepáticos
2. Lesão muscular
Como é abundante no músculo, a AST pode subir devido a:
Traumas, quedas ou atropelamentos
Exercício intenso
Convulsões
Miopatias inflamatórias
Hipocalemia
AST alta + CK alta → origem muscular é muito provável.
3. Hemólise
Hemólise na amostra pode elevar falsamente a AST.
O que significa AST baixa?
Não possui relevância clínica.
Interpretação clínica
A relação AST/ALT é extremamente útil:
ALT > AST → origem hepática mais provável
AST > ALT → origem muscular mais provável
AST deve sempre ser interpretada em conjunto com ALT, CK, bilirrubina e sinais clínicos.
ALT (Alanina Aminotransferase)
A ALT é uma enzima altamente específica do fígado em gatos. Ela está localizada principalmente dentro dos hepatócitos (células hepáticas), e quando essas células sofrem dano, inflamação ou destruição, a ALT é liberada para a corrente sanguínea. Por isso, a ALT é considerada um dos marcadores mais sensíveis de lesão hepatocelular na bioquímica felina.
Ao contrário da AST — que pode aumentar por lesões musculares — a ALT reflete quase exclusivamente problemas hepáticos.
O que significa uma ALT alta?
1. Lipidose hepática (fígado gorduroso)
Muito comum em gatos que param de comer subitamente. A ALT pode aumentar várias vezes acima do limite normal. Muitas vezes acompanha:
ALP elevada
Bilirrubina alta
AST moderadamente elevada
2. Exposição a toxinas ou medicamentos
Plantas tóxicas, produtos químicos, alimentos estragados e certos medicamentos podem causar danos às células do fígado.
3. Hepatites inflamatórias ou infecciosas
Incluindo:
FIP
FeLV
FIV
Hepatites bacterianas
4. Neoplasias hepáticas
Tumores primários ou metastáticos afetam diretamente o tecido hepático.
5. Hipóxia ou choque circulatório
Falta de oxigenação hepática pode elevar a ALT.
O que significa uma ALT baixa?
Normalmente não tem significado clínico. Pode acontecer em casos de falência hepática terminal, quando o fígado já não consegue liberar enzimas.
Interpretação clínica da ALT
A ALT deve ser interpretada junto com:
AST
ALP
GGT
Bilirrubina
TBA (ácidos biliares)
Ultrassom abdominal
É um dos primeiros marcadores a se alterar em doenças hepáticas felinas.
Relação AST/ALT
A relação AST/ALT é um índice essencial para diferenciar se a elevação das enzimas hepáticas tem origem hepática ou muscular. Em gatos, essa relação é ainda mais importante, pois a AST pode se elevar por causas não hepáticas — como traumatismos musculares ou convulsões.
Relação AST/ALT alta (AST > ALT)
Sugere fortemente lesão muscular.
Causas prováveis:
Traumas (quedas, atropelamentos, choques)
Miopatias inflamatórias
Convulsões prolongadas
Hipocalemia
Exercício intenso
Injeções intramusculares
Manipulação brusca
Quando a CK também está aumentada, a origem muscular é quase certa.
Relação AST/ALT baixa (ALT > AST)
Mais indicativa de lesão hepática.
Causas:
Lipidose hepática
Hepatite tóxica
Hepatite infecciosa
Obstrução biliar
Neoplasias hepáticas
Por que a relação AST/ALT é importante?
Porque ajuda a:
Distinguir entre lesão muscular e hepática
Interpretar elevações simultâneas de AST e ALT
Guiar a necessidade de exames complementares (CK, ultrassom, TBA)
Resumo da interpretação
ALT predomina → fígado
AST predomina + CK alta → músculo
Ambas altas + bilirrubina alta → doença hepatobiliar provável
GGT (Gama Glutamil Transferase)
A GGT é uma enzima localizada principalmente nos ductos biliares, com menor presença no fígado e no pâncreas. Em gatos, a GGT não se eleva facilmente, ao contrário do que ocorre em cães. Por isso, quando a GGT aparece aumentada na bioquímica felina, esse achado geralmente indica uma alteração hepatobiliar importante, especialmente relacionada ao fluxo da bile.
Enquanto ALT e AST mostram lesão das células hepáticas, a GGT revela alterações mais específicas dos canais biliares e quadros de colestase.
O que significa uma GGT alta?
1. Obstrução biliar (colestase) – causa mais relevante
O fluxo da bile está comprometido, elevando a GGT.Pode ocorrer por:
Cálculos biliares
Colangite / colangio-hepatite
Pancreatite comprimindo os ductos
Tumores hepáticos ou pancreáticos
Estreitamentos inflamatórios dos ductos
Quando existe obstrução, costuma haver GGT↑ + ALP↑ simultaneamente.
2. Lipidose hepática felina
Nos gatos, a lipidose apresenta um padrão muito característico:
ALP muito alta
GGT normal ou discretamente elevada
Esse padrão ALP↑ com GGT normal é altamente sugestivo de lipidose.
3. Toxinas ou medicamentos
Alguns fármacos podem induzir aumento da GGT.
O que significa uma GGT baixa?
Não tem relevância clínica em gatos. Gatos normalmente têm GGT baixa.
Interpretação clínica
A relação entre ALP e GGT é fundamental:
ALP↑ + GGT↑ → obstrução biliar
ALP↑ + GGT normal → lipidose hepática
A GGT é, portanto, um marcador-chave para diferenciar doenças do fígado de doenças dos ductos biliares.
ALP (Fosfatase Alcalina)
A ALP é uma enzima relacionada ao fígado, aos ductos biliares e ao tecido ósseo. Porém, em gatos, sua produção é muito lenta, o que significa que qualquer aumento da ALP é considerado clinicamente importante. Diferente dos cães — onde a ALP sobe facilmente — nos gatos sua elevação quase sempre indica uma patologia séria.
O que significa uma ALP alta?
1. Lipidose hepática (causa mais comum em gatos)
A lipidose pode elevar ALP a níveis muito altos.Padrão típico:
ALP muito elevada
GGT normal ou levemente elevada
ALT elevada
Bilirrubina variável
2. Obstrução dos ductos biliares
O fluxo da bile é impedido por:
Pancreatite
Tumores
Cálculos biliares
Inflamações dos ductos
Nesses casos, geralmente há ALP↑ + GGT↑.
3. Doenças endócrinas/metabólicas
Menos comuns, mas possíveis:
Hipertireoidismo
Diabetes mellitus
Síndrome de Cushing (raro em gatos)
4. Gatos filhotes
Podem ter ALP elevada devido ao crescimento ósseo — mas isso não se aplica a gatos adultos.
O que significa ALP baixa?
É normal em gatos. Não tem relevância clínica.
Interpretação clínica
A ALP deve ser avaliada em conjunto com:
GGT
ALT e AST
Bilirrubina
Ultrassom hepatobiliar
Padrões importantes:
ALP↑ + GGT normal → lipidose hepática
ALP↑ + GGT↑ → obstrução biliar
A ALP é uma das enzimas mais relevantes e específicas na interpretação do fígado felino.
Ácidos Biliares Totais (TBA)
Os Ácidos Biliares Totais (TBA) são um dos marcadores mais sensíveis e confiáveis da função hepática real em gatos. Diferente de ALT, AST, ALP ou GGT — que mostram dano ou inflamação — os TBA revelam se o fígado está desempenhando suas funções metabólicas corretamente, incluindo sintetizar, secretar e reciclar ácidos biliares.
Os ácidos biliares são produzidos no fígado, liberados para o intestino junto com a bile para auxiliar na digestão, reabsorvidos pelo trato intestinal e retornam ao fígado pela circulação entero-hepática. Qualquer falha neste ciclo aumenta os TBA no sangue.
O que significa um TBA alto?
1. Insuficiência hepática (disfunção funcional)
Quando o fígado perde capacidade de processar ácidos biliares.Possíveis causas:
Lipidose hepática
Hepatites tóxicas
Hepatite associada à FIP
Inflamação crônica
Fibrose hepática
Tumores hepáticos
2. Shunt portossistêmico (PSS)
Malformação congênita ou adquirida que desvia o sangue do fígado.Gatos com PSS costumam ter TBA muito elevados em jejum e pós-prandial.
3. Obstrução biliar
Se a bile não consegue fluir para o intestino:
Os ácidos biliares acumulam
O TBA sobe significativamente
Frequentemente associado a pancreatite, colangite ou cálculos.
TBA baixo
Não tem relevância clínica.
Importância clínica
O TBA é um dos raros testes que respondem:“O fígado está funcionando bem?”
É extremamente útil para detectar doenças hepáticas antes de alterações marcantes de outras enzimas.
BUN (Nitrogênio Ureico no Sangue)
O BUN mede a quantidade de ureia presente no sangue do gato. A ureia é um produto de descarte fabricado no fígado e excretado pelos rins. Por isso, o BUN reflete:
Função renal,
Estado de hidratação,
Metabolismo de proteínas,
Possíveis sangramentos gastrointestinais.
Por ser influenciado por vários fatores, nunca deve ser interpretado isoladamente.
O que significa um BUN alto?
1. Doença renal crônica (DRC) – mais comum
Quando os rins perdem capacidade filtrante, a ureia se acumula.Geralmente acompanhado de:
Creatinina alta
Fósforo elevado
tCO₂ baixo
Urina diluída
SDMA elevado
2. Lesão renal aguda (LRA)
Causada por:
Toxinas (lírios, anticongelante, medicamentos)
Infecções
Obstrução urinária
Desidratação severa
Choque
Aumenta rapidamente.
3. Desidratação
O BUN cresce de forma mais marcante do que a creatinina.Urina costuma estar muito concentrada.
4. Hemorragia gastrointestinal
O sangue digerido aumenta a produção de ureia.
5. Dieta rica em proteínas
Pode elevar BUN sem doença associada.
O que significa um BUN baixo?
Pode ocorrer em:
Insuficiência hepática grave (fígado não produz ureia)
Sobrehidratação ou fluidoterapia
Dietas muito pobres em proteínas
Importância clínica
O BUN deve ser interpretado com:
Creatinina
Relação BUN/CRE
SDMA
Densidade urinária
É crucial para diferenciar causas renais, pré-renais e pós-renais.
Creatinina (CRE)
A Creatinina (CRE) é um dos marcadores mais confiáveis da função renal em gatos. Ela é produzida de forma constante pelo metabolismo muscular e eliminada quase exclusivamente pelos rins. Por isso, quando a creatinina está elevada, geralmente indica que os rins perderam uma parte significativa de sua capacidade filtrante.
Ao contrário do BUN — que pode subir devido à desidratação, dieta rica em proteínas ou sangramento gastrointestinal — a creatinina é muito mais específica para avaliar doença renal.
O que significa uma creatinina alta?
1. Doença Renal Crônica (DRC) – causa mais comum
A creatinina tende a aumentar quando o gato já perdeu 60–70% da função renal.Frequentemente vem acompanhada de:
BUN alto
Fósforo elevado
tCO₂ reduzido (acidemia)
Urina pouco concentrada
SDMA elevado
É um dos parâmetros-chave para estadiar a DRC segundo as diretrizes IRIS.
2. Lesão Renal Aguda (LRA)
Pode aumentar rapidamente devido a:
Toxinas (lírios, anticongelantes, medicamentos)
Obstrução urinária
Infecções renais
Choque ou desidratação extrema
3. Desidratação moderada a severa
Pode causar aumento leve a moderado da creatinina, mas o BUN tende a subir mais rapidamente.
4. Gatos muito musculosos
Podem apresentar creatinina naturalmente mais alta.
O que significa uma creatinina baixa?
Raramente tem significado clínico.Pode ser vista em:
Gatos idosos com pouca massa muscular
Sobrehidratação
Erros laboratoriais
Interpretação clínica
A creatinina deve sempre ser analisada com:
BUN
Relação BUN/CRE
SDMA
Densidade urinária
Ela é central no diagnóstico, estadiamento e monitoramento de doenças renais felinas.
Relação BUN/CRE
A Relação BUN/CRE compara o nível de ureia (BUN) com o nível de creatinina no sangue. Esse índice ajuda a determinar se a causa do desequilíbrio metabólico é renal, pré-renal (desidratação), pós-renal (obstrução) ou até gastrointestinal.
O que significa uma Relação BUN/CRE alta?
1. Desidratação (causa mais comum)
O BUN sobe bem mais rápido que a creatinina.O gato costuma apresentar:
Mucosas secas
Urina muito concentrada
Sinais clínicos de desidratação
2. Hemorragia gastrointestinal
O sangue digerido eleva a ureia → aumenta BUN de forma desproporcional.
3. Dietas muito ricas em proteínas
Podem elevar apenas o BUN.
O que significa uma Relação BUN/CRE baixa?
1. Doença renal verdadeira
Quando ambos estão altos, mas a creatinina sobe mais proporcionalmente → relação cai.
2. Insuficiência hepática
O fígado não produz ureia → BUN baixo, creatinina normal ou elevada.
Padrões clínicos importantes
BUN↑ + CRE normal → desidratação ou sangramento GI
BUN↑ + CRE↑ (CRE proporcionalmente maior) → doença renal
BUN baixo + CRE↑ → insuficiência hepática possível
A Relação BUN/CRE é uma ferramenta essencial na interpretação da bioquímica felina.
Creatina Quinase (CK)
A Creatina Quinase (CK) é uma enzima encontrada principalmente no músculo esquelético, músculo cardíaco e, em menor escala, no sistema nervoso central. Ela é extremamente sensível ao dano muscular, elevando-se rapidamente quando há lesão, inflamação ou estresse significativo nas fibras musculares.
A CK é essencial na interpretação da bioquímica felina porque ajuda a diferenciar lesão hepática de lesão muscular, especialmente quando a AST também está elevada.
O que significa uma CK alta?
1. Traumas musculares (causa mais comum)
Podem ocorrer devido a:
Quedas, saltos bruscos, colisões
Brigas entre gatos
Manipulação forte ou contenção rígida
Injeções intramusculares
Esforço físico excessivo
A CK pode aumentar drasticamente em poucas horas.
2. Miosite (inflamação muscular)
Origem viral, bacteriana ou imunomediada.Nesses casos, os níveis podem ser extremamente altos.
3. Hipocalemia (baixo potássio)
O potássio regula o funcionamento muscular. Sua deficiência causa:
Fraqueza muscular
Degeneração das fibras
Posturas anormais (ventroflexão cervical)
CK elevada
4. Convulsões prolongadas
As contrações intensas elevam a CK.
5. Toxinas ou medicamentos
Certas substâncias podem causar dano direto ao músculo.
O que significa uma CK baixa?
Não possui significado clínico.
Interpretação clínica
CK↑ + AST↑ + ALT normal → origem muscular
CK normal + AST↑ + ALT↑ → origem hepática
CK↑ + ALT↑ → processo misto (trauma + inflamação)
A CK é um dos melhores marcadores para avaliar integridade muscular em gatos.
Amilase (AMY)
A Amilase (AMY) é uma enzima digestiva produzida principalmente pelo pâncreas, embora também seja encontrada no intestino e no fígado. Ela participa da digestão de carboidratos, porém os gatos — sendo carnívoros estritos — têm níveis naturalmente mais baixos do que os cães.
Na medicina felina, a amilase não é um marcador definitivo de pancreatite, mas pode indicar alterações no pâncreas, nos rins ou no trato gastrointestinal.
O que significa uma amilase alta?
1. Pancreatite
Pode haver um aumento leve a moderado da amilase.Mas atenção: muitos gatos com pancreatite apresentam amilase normal, portanto o diagnóstico não deve depender apenas dela.
2. Doença renal
A amilase é eliminada pelos rins.Quando a filtração renal diminui:
A amilase aumenta
A creatinina tende a subir
O BUN geralmente está elevado
Esse padrão indica origem renal, não pancreática.
3. Doenças gastrointestinais
Inflamações, obstruções ou enterites graves podem elevar a amilase.
4. Medicamentos ou toxinas
Podem causar estresse no pâncreas e elevar temporariamente a amilase.
O que significa uma amilase baixa?
Não é clinicamente relevante.
Interpretação clínica
A amilase deve ser analisada junto com:
Lipase
fPL (Lipase Pancreática Felina – teste específico)
Creatinina e BUN
Sinais clínicos (vômito, anorexia, dor abdominal)
Pontos importantes:
Amilase alta não confirma pancreatite
Amilase normal não descarta pancreatite
É um marcador complementar e deve ser interpretado no conjunto do quadro clínico.
Glicose (GLU)
A glicose é a principal fonte de energia para as células do corpo felino e reflete diretamente a interação entre pâncreas, fígado, sistema endócrino, resposta ao estresse e metabolismo geral. Como os gatos são extremamente sensíveis ao estresse, seus níveis de glicose podem subir significativamente até mesmo em uma simples ida ao veterinário.
Por esse motivo, a interpretação da glicose na bioquímica felina deve sempre considerar o estado emocional do gato e, quando necessário, ser confirmada com testes adicionais.
O que significa uma glicose alta? (Hiperglicemia)
1. Hiperglicemia por estresse (muito comum em gatos)
A adrenalina liberada durante o transporte, manipulação ou medo pode elevar temporariamente a glicose.
2. Diabetes mellitus
Uma das causas patológicas mais importantes.Sinais que acompanham glicose persistentemente alta:
Aumento de sede (polidipsia)
Aumento de micção (poliúria)
Perda de peso
Aumento do apetite
Glicose na urina
Presença de cetonas (casos avançados)
A confirmação é feita por repetição ou por teste de frutosamina.
3. Pancreatite
Inflamação que prejudica a produção de insulina e aumenta a glicose.
4. Hipertireoidismo
O metabolismo acelerado pode elevar a glicose.
5. Uso de corticoides
Prednisolona e dexametasona podem causar hiperglicemia.
O que significa uma glicose baixa? (Hipoglicemia)
A hipoglicemia é perigosa e pode ser fatal.
Principais causas:
Excesso de insulina em gatos diabéticos
Insuficiência hepática
Sepsis
Anorexia prolongada
Tumores produtores de insulina (insulinoma – muito raro)
Sintomas:
Fraqueza
Tremores
Desorientação
Convulsões
Coma
Interpretação clínica
A glicose deve ser analisada com:
Frutosamina
Urina (glicose e cetonas)
Histórico clínico
Outros marcadores metabólicos
É um dos parâmetros mais importantes para diagnosticar doenças endócrinas felinas.
Colesterol (CHOL)
O colesterol é um lipídeo essencial para a formação das membranas celulares, síntese de hormônios e produção de ácidos biliares. Nos gatos, seu valor no exame de bioquímica revela informações importantes sobre metabolismo, função hepática, pâncreas, tireoide e sistema renal.
Ao contrário de humanos, um colesterol alto em gatos dificilmente está relacionado à dieta — geralmente indica doença metabólica ou endócrina.
O que significa um colesterol alto? (Hipercolesterolemia)
1. Diabetes mellitus
Desregulação lipídica comum em gatos diabéticos.
2. Pancreatite
Inflamação pancreática que prejudica o metabolismo das gorduras.
3. Síndrome nefrótica
Proteinúria grave pode elevar o colesterol.
4. Doenças hepáticas
Obstrução biliar e disfunção hepática podem elevar CHOL.
5. Hipotireoidismo
Raro em gatos, mas quando ocorre, aumenta significativamente o colesterol.
O que significa um colesterol baixo?
Pode ocorrer em:
Insuficiência hepática
Má absorção intestinal
Desnutrição
Hipertireoidismo
Interpretação clínica
O colesterol deve ser interpretado junto com:
Triglicerídeos
ALT/ALP
Glicose
Testes de tireoide
Marcadores pancreáticos
Padrões importantes:
CHOL↑ + TG↑ → diabetes ou pancreatite
CHOL↑ + ALP↑ → possível doença hepatobiliar
CHOL↓ + ALT↑ → possível insuficiência hepática
Triglicerídeos (TG)
Os triglicerídeos (TG) são a principal forma de armazenamento de energia no organismo dos gatos. Eles circulam no sangue e são utilizados como fonte energética quando necessário. Na bioquímica felina, níveis de TG fornecem informações valiosas sobre metabolismo lipídico, pâncreas, fígado, sistema endócrino e o estado metabólico geral.
Alterações nos triglicerídeos não devem ser ignoradas, pois podem indicar desde simples efeitos alimentares até doenças sistêmicas importantes.
O que significa um TG alto? (Hipertrigliceridemia)
1. Pancreatite
A inflamação do pâncreas prejudica o processamento de gorduras, elevando os TG.Quando há:
TG↑ + CHOL↑ + GLU↑,há forte suspeita de pancreatite ou síndrome metabólica.
2. Diabetes mellitus
A deficiência de insulina impede a metabolização adequada de gorduras → TG aumentam.
3. Doença hepática
Lipidiose hepática, colestase ou inflamação hepática alteram o metabolismo lipídico.
4. Distúrbios metabólicos/genéticos
Alguns gatos têm predisposição natural a TG elevados.
5. Corticosteroides
Medicamentos como prednisolona podem elevar TG temporariamente.
O que significa um TG baixo?
Geralmente não possui relevância clínica.Possíveis causas:
Má nutrição
Má absorção
Anorexia prolongada
Interpretação clínica dos TG
Os triglicerídeos devem ser interpretados com:
Colesterol
Glicose
Enzimas hepáticas
fPL (lipase pancreática felina)
Testes hormonais (tireoide)
Padrões úteis:
TG↑ + CHOL↑ → diabetes ou pancreatite
TG↑ + ALT↑ → lipidiose hepática possível
tCO₂ (Dióxido de Carbono Total)
O tCO₂ mede a quantidade total de dióxido de carbono no sangue, representado principalmente pelo bicarbonato (HCO₃⁻) — o principal tampão do organismo felino. Por isso, este parâmetro é fundamental para avaliar o equilíbrio ácido–base e identificar distúrbios metabólicos graves.
O que significa um tCO₂ alto? (Alcalose metabólica)
Um tCO₂ alto sugere que o sangue está excessivamente alcalino.
Principais causas:
Vômitos prolongados (perda de ácidos gástricos)
Uso de diuréticos
Hipocalemia
Fases específicas da doença renal crônica
O que significa um tCO₂ baixo? (Acidose metabólica)
Este é um achado clinicamente mais urgente e muitas vezes perigoso.
Causas comuns:
Insuficiência renal (acúmulo de ácidos)
Cetoacidose diabética (CAD)
Choque / má perfusão (acúmulo de ácido láctico)
Diarreia intensa (perda de bicarbonato)
Toxinas
A acidose metabólica pode se manifestar com respiração acelerada, letargia, colapso e desorientação.
Interpretação clínica
O tCO₂ deve ser avaliado junto com:
Potássio (K)
Cloro (Cl)
Creatinina e BUN
pH urinário
Gasometria (quando disponível)
Padrões importantes:
tCO₂ baixo + creatinina alta → acidose por doença renal
tCO₂ baixo + glicose alta + cetonas → cetoacidose diabética
tCO₂ alto + cloro baixo → alcalose por vômitos
O tCO₂ é crucial para entender a gravidade dos distúrbios metabólicos no gato.
Cálcio (Ca)
O cálcio é um mineral essencial que participa de funções vitais no organismo felino: contração muscular, transmissão nervosa, coagulação sanguínea, secreção hormonal, atividade enzimática e manutenção da estrutura óssea. Por isso, alterações nos níveis de cálcio na bioquímica felina podem indicar desde distúrbios simples até doenças metabólicas graves.
O exame mede o cálcio total, composto de cálcio ionizado (forma ativa) e cálcio ligado a proteínas — principalmente à albumina. Quando o cálcio total está alterado, muitas vezes é necessário medir o cálcio ionizado para confirmar a verdadeira alteração.
O que significa um cálcio alto? (Hipercalcemia)
A hipercalcemia em gatos é incomum, mas quando ocorre costuma ser clinicamente importante.
Principais causas:
1. Neoplasias (causa mais comum)
Certos tumores produzem substâncias semelhantes ao hormônio paratireoideo, elevando o cálcio:
Linfoma
Adenocarcinomas
Tumores de paratireoide (raros)
2. Doença renal crônica (DRC)
Distúrbios no metabolismo do fósforo e da vitamina D podem elevar o cálcio.
3. Toxicidade por vitamina D
Ingestão de raticidas com colecalciferol ou suplementação excessiva causa cálcio perigosamente elevado.
4. Doença de Addison (hipoadrenocorticismo)
Rara em gatos, mas possível.
5. Inflamação granulomatosa intensa
Pode alterar o metabolismo da vitamina D.
O que significa um cálcio baixo? (Hipocalcemia)
A hipocalcemia pode afetar gravemente músculos e sistema nervoso.
Principais causas:
Pancreatite
DRC avançada
Hipoparatireoidismo
Sepsis
Gestação e lactação (alta demanda de cálcio)
Sinais clínicos de hipocalcemia
Tremores
Convulsões
Rigidez
Tetania
Fraqueza
Hipersensibilidade
Interpretação clínica
O cálcio deve sempre ser interpretado com:
Albumina
Fósforo
tCO₂
Creatinina
Cálcio ionizado
Padrões importantes:
Ca↑ + P↓ → hiperparatireoidismo primário
Ca↓ + P↑ → doença renal
Ca↓ + albumina baixa → pseudo-hipocalcemia (ver Ca ionizado)
Fósforo (P)
O fósforo é crucial para a produção de energia (ATP), integridade óssea, sinalização celular e equilíbrio ácido–base. Ele é um dos marcadores mais importantes na interpretação da função renal em gatos.
O que significa um fósforo alto? (Hiperfosfatemia)
A principal causa é:
1. Doença renal crônica (DRC)
Quando os rins não conseguem eliminar o fósforo, ele se acumula no sangue.Isso pode causar:
Hiperparatireoidismo secundário
Desmineralização óssea
Progressão acelerada da DRC
2. Hipoparatireoidismo
Baixa produção de PTH → fósforo sobe.
3. Toxicidade por vitamina D
Eleva tanto cálcio quanto fósforo.
4. Hemólise
A quebra dos glóbulos vermelhos libera fósforo intracelular.
O que significa um fósforo baixo? (Hipofosfatemia)
Causas comuns:
1. Lipidiose hepática
Muito comum em gatos anoréxicos → fosfato despenca.
2. Diabetes no início do tratamento
A entrada de glicose nas células arrasta fósforo para dentro delas → queda sérica.
3. Hiperparatireoidismo
PTH alto reduz fósforo.
Interpretação clínica
Fósforo deve ser interpretado junto com cálcio.
Padrões críticos:
Ca × P > 70–75 → risco alto de mineralização dos tecidos
Ca↓ + P↑ → doença renal
Ca↑ + P↓ → hiperparatireoidismo
O fósforo é essencial no diagnóstico, manejo e prognóstico de doenças renais felinas.
Produto Cálcio–Fósforo (Ca × P)
O Produto Cálcio–Fósforo (Ca × P) é um dos indicadores mais críticos na bioquímica felina, especialmente em gatos com Doença Renal Crônica (DRC). Ele não analisa o cálcio e o fósforo separadamente, mas sim a interação entre os dois minerais, revelando o risco de mineralização de tecidos moles, calcificação vascular e progressão acelerada da doença renal.
Quando o Ca × P ultrapassa valores seguros, cálcio e fósforo começam a se combinar e precipitar nos tecidos — uma condição grave, muitas vezes irreversível.
Por que o Ca × P é tão importante?
Valores elevados podem causar:
Calcificação de vasos sanguíneos
Depósitos minerais nos rins
Mineralização do miocárdio
Lesões pulmonares e gástricas
Aceleração da perda de função renal
Por isso, gatos renais precisam de monitoramento contínuo do Ca × P.
Faixas de risco (orientação clínica)
Ca × P > 70–75 → risco MUITO alto de mineralização
Ca × P entre 60–70 → zona de alerta; monitoramento intensivo
Ca × P < 60 → zona segura
Esses valores ajudam na decisão terapêutica e no ajuste dietético.
Causas de Ca × P elevado
DRC moderada a avançada (IRIS 3–4)
Toxicidade por vitamina D
Hiperparatireoidismo primário ou secundário
Fósforo persistentemente elevado
Até mesmo um aumento moderado de cálcio, combinado com fósforo alto, pode levar o Ca × P para níveis perigosos.
Como reduzir um Ca × P alto
Dietas renais com fósforo reduzido
Quelantes de fósforo prescritos pelo veterinário
Controle rigoroso da vitamina D
Acompanhamento regular de creatinina, fósforo e cálcio
O Ca × P é considerado um dos parâmetros prognósticos mais importantes para gatos renais.
Magnésio (Mg)
O Magnésio (Mg) é um mineral essencial envolvido em mais de 300 reações bioquímicas, atuando na função muscular, neurológica, cardíaca, imunológica e metabólica. Apesar de frequentemente negligenciado, o Mg desempenha papel crucial na saúde felina, e alterações nos seus níveis podem indicar distúrbios renais, endócrinos ou metabólicos significativos.
O que significa magnésio alto? (Hipermagnesemia)
As causas principais incluem:
1. Doença Renal Crônica
Os rins eliminam o magnésio; quando falham, o Mg se acumula.Nesses casos geralmente há:
BUN alto
Creatinina elevada
Fósforo aumentado
2. Suplementação excessiva
Antiácidos ou suplementos contendo magnésio podem elevar o Mg — especialmente perigoso em gatos renais.
3. Lesão tecidual severa
Traumas e destruição celular liberam magnésio intracelular no sangue.
O que significa magnésio baixo? (Hipomagnesemia)
Pode afetar gravemente músculos e nervos.
Causas comuns:
Vômitos ou diarreia prolongados
Diabetes mellitus (perda renal de Mg)
Pancreatite
Má nutrição ou anorexia prolongada
Sinais clínicos de hipomagnesemia
Tremores
Convulsões
Fraqueza
Arritmias
Hiperexcitabilidade neuromuscular
Magnésio e saúde urinária
O magnésio tem relação direta com os cristais de estruvita.Maior risco ocorre quando há:
Mg elevado
Urina alcalina
Fósforo alto
Por isso, gatos com histórico de FLUTD (doença do trato urinário inferior felino) precisam de monitoramento de Mg.
Interpretação clínica
O Mg deve ser interpretado junto com:
Cálcio
Fósforo
Potássio
tCO₂
Função renal
Mesmo pequenas alterações no Mg podem afetar coração, músculos e sistema neurológico, tornando-o um parâmetro essencial.
FAQ – Bioquímica Felina
O que é a bioquímica felina e por que ela é tão importante?
A bioquímica felina é um exame de sangue completo que avalia enzimas hepáticas, marcadores renais, eletrólitos, minerais, proteínas e metabólitos essenciais. Ela oferece uma visão profunda da saúde interna do gato antes mesmo de os sintomas aparecerem. Como os felinos escondem doenças, a bioquímica felina é fundamental para detectar problemas em fases iniciais, permitindo diagnóstico precoce e tratamento eficaz.
A bioquímica felina precisa ser feita em jejum?
Sim. Para resultados mais precisos, recomenda-se jejum de 8 a 12 horas. A presença de alimentos pode alterar glicose, triglicerídeos, colesterol e ácidos biliares. Em emergências, o exame pode ser realizado sem jejum, desde que o veterinário interprete os resultados com cautela.
O estresse pode alterar os resultados da bioquímica felina?
Sim. Gatos são extremamente sensíveis ao estresse e podem apresentar hiperglicemia transitória devido à adrenalina. Em alguns casos, o estresse também pode causar leves variações em outros parâmetros. Quando há dúvida, o veterinário pode solicitar frutosamina ou repetir a bioquímica para confirmar.
Quanto tempo leva para obter os resultados da bioquímica felina?
Em clínicas com analisadores internos, os resultados costumam estar disponíveis em 15 a 30 minutos. Quando enviados para laboratórios externos, podem levar de algumas horas a um dia.
Que doenças hepáticas podem ser detectadas pela bioquímica felina?
A bioquímica felina pode identificar lipidose hepática, hepatites tóxicas, hepatites infecciosas, colestase, obstruções biliares, FIP com acometimento hepático e tumores. ALT, AST, ALP, GGT, bilirrubina e TBA formam o conjunto de marcadores mais informativos para avaliar o fígado.
Como a bioquímica felina identifica doenças renais?
Marcadores como BUN, creatinina, fósforo e relação BUN/CRE refletem a capacidade de filtração renal. A bioquímica felina permite detectar doença renal crônica, lesão renal aguda, desidratação e até obstrução urinária. O SDMA pode detectar alterações renais muito cedo.
A bioquímica felina detecta pancreatite?
Não de forma definitiva. Amilase e lipase podem aumentar, mas não são confiáveis isoladamente. Para diagnóstico mais preciso de pancreatite, utiliza-se o exame fPL. A bioquímica felina ajuda a identificar desidratação, inflamação e alterações metabólicas associadas.
O que significa ALT alta na bioquímica felina?
ALT elevada indica lesão dos hepatócitos. As causas incluem lipidose hepática, hepatite tóxica, infecções virais como FIP, obstrução biliar e tumores hepáticos. É um dos marcadores mais sensíveis de dano hepático.
O que significa AST alta na bioquímica felina?
A AST pode aumentar devido a lesão hepática ou muscular. Quando a CK também está elevada, a origem é quase sempre muscular. AST maior que ALT geralmente indica lesão muscular, enquanto ALT maior que AST indica dano hepático.
O que significa ALP alta na bioquímica felina?
Em gatos, qualquer elevação de ALP deve ser considerada séria. ALP alta pode indicar lipidose hepática, colestase ou estenose dos ductos biliares. O padrão ALP↑ + GGT↑ sugere fortemente obstrução biliar.
O que significa GGT alta na bioquímica felina?
A GGT está relacionada principalmente aos ductos biliares. Valores elevados indicam colestase, inflamação biliar, compressão por pancreatite ou obstrução dos ductos. Quando GGT e ALP estão altas ao mesmo tempo, o problema é quase sempre obstrutivo.
O que significa TBA alto na bioquímica felina?
TBA elevado indica que o fígado não está conseguindo desempenhar suas funções metabólicas corretamente. Pode sugerir insuficiência hepática, lipidose hepática, shunt portossistêmico ou obstrução biliar. É um dos testes mais sensíveis de função hepática verdadeira.
O que significa BUN alto na bioquímica felina?
Pode indicar doença renal crônica, lesão renal aguda, desidratação ou sangramento gastrointestinal. Também pode subir devido a dietas ricas em proteína. A interpretação deve ser feita junto com a creatinina.
O que significa creatinina alta na bioquímica felina?
É um marcador altamente específico de doença renal. Níveis elevados indicam perda significativa da função renal. É fundamental para classificar a doença renal segundo os critérios IRIS.
O que significa uma relação BUN/CRE alterada na bioquímica felina?
Uma relação BUN/CRE alta sugere desidratação ou sangramento gastrointestinal. Uma relação baixa indica lesão renal verdadeira ou insuficiência hepática. É essencial para identificar a origem da alteração.
O que significa CK alta na bioquímica felina?
CK elevada indica lesão muscular por traumatismos, miosite, convulsões ou hipocalemia. Quando CK e AST estão altas, mas ALT está normal, a lesão muscular é a causa mais provável.
O que significa amilase alta na bioquímica felina?
Pode indicar pancreatite, doença renal ou inflamação gastrointestinal. Mas a amilase não confirma pancreatite sozinha — o exame fPL é necessário para diagnóstico definitivo.
O que significa glicose alta na bioquímica felina?
Pode ser causada por estresse, diabetes mellitus, pancreatite, hipertireoidismo ou corticoides. A confirmação de diabetes é feita com frutosamina ou glicemia repetida.
O que significa colesterol alto na bioquímica felina?
Normalmente está associado a diabetes, pancreatite, síndrome nefrótica ou doença hepática. A dieta raramente é a causa em gatos.
O que significa fósforo alto na bioquímica felina?
Geralmente indica doença renal crônica. Também pode aumentar devido a hipoparatireoidismo, intoxicação por vitamina D ou hemólise.
Por que o produto Ca × P é importante na bioquímica felina?
Porque valores acima de 70–75 aumentam o risco de mineralização dos tecidos moles, danos vasculares e progressão acelerada da doença renal. É crucial no manejo de gatos renais.
O que significa magnésio alto na bioquímica felina?
Geralmente indica insuficiência renal ou ingestão excessiva de magnésio. Valores altos podem predispor à formação de cristais de estruvita.
Pode haver doença mesmo com bioquímica felina normal?
Sim. Doenças como pancreatite inicial, distúrbios endócrinos, algumas infecções virais e certos tumores podem não alterar o painel bioquímico. Por isso, exames complementares podem ser necessários.
Com que frequência gatos idosos devem fazer bioquímica felina?
Recomenda-se a cada 6–12 meses. Gatos com doenças crônicas precisam de monitoramento mais frequente, geralmente a cada 3–6 meses.
Fontes
American Veterinary Medical Association (AVMA)
Merck Veterinary Manual
Cornell University College of Veterinary Medicine
Royal Veterinary College (RVC) – Clinical Pathology Guidelines
Mersin Vetlife Veterinary Clinic – https://share.google/XPP6L1V6c1EnGP3Oc
